Trabalho há alguns anos em um provedor de software ERP e uma pergunta que sempre aparece em nossas discussões é sobre os nossos concorrentes. Geralmente, a resposta é: nossos concorrentes são empresas com características muito parecidas com as nossas. Isso está correto? Na maioria dos casos, sim. Por outro lado, essa pode ser uma visão limitada quando se pensa no contexto da Era Digital.
Quando falamos em Era Digital, é preciso incluir na discussão as plataformas digitais: tipos de empresas que nasceram juntamente com a evolução da internet, baseada na digitalização de processos, sendo bem diferentes das empresas tradicionais, que buscam criar valores únicos. Por exemplo: para uma rede de hotéis entregar efetividade aos seus clientes, precisa adquirir prédios e contratar funcionários para a realização dos serviços.
As plataformas utilizam tecnologia de ponta para intermediar as transações e seus ativos podem estar fora das empresas. Este modelo permite a redução de custos e crescimento muitas vezes exponencial. Desde o nascimento da Amazon, muitas outras plataformas mudaram seus modelos e começaram a criar uma nova forma de competição em vários setores.
As empresas tradicionais costumam tentar controlar todo o processo para produzir e entregar valor ao mercado. Elas mesmas são responsáveis pela concepção e criação do produto, serviço, fabricação e produção. Por causa disso, precisam controlar cada etapa do pipeline sendo elas as únicas que decidem o que deve ou não avançar nesse pipeline.
Dessa forma, muitas vezes o fator decisivo sobre o que pode ser lançado no mercado está nas mãos de um único profissional dentro da empresa. Por exemplo, na indústria editorial, há algum tempo, apenas os editores eram os principais responsáveis pela decisão de produzir um manuscrito de um escritor.
É possível ver essa situação retratada no filme “Julie & Julia” (2009), enquanto a chef Julie Child (Meryl Streep), tentava publicar seu livro de culinária. Ela precisou brigar com os editores que julgavam se o conteúdo produzido por ela era bom o suficiente para conquistar os leitores. Por outro lado, a nova-iorquina Julie Powel (Amy Adams), escreve sua experiência com as mesmas receitas em um blog e a aceitabilidade dos leitores é notável, pois interagem com ela através de feedbacks em cada postagem.
Mas então, quem pode avaliar se o produto é bom ou não? A resposta mais adequada é o cliente: pilar fundamental para os negócios. Por exemplo, a Amazon.com sempre solicita avaliações/feedbacks de seus consumidores sobre os produtos oferecidos. Com esse modelo já implantado, a empresa conta com o respaldo de seus clientes para a permanência ou retirada de algum fornecedor.
Os responsáveis precisam entender a dinâmica de cada plataforma para saber como lidar com esses novos concorrentes. Alguns autores como Geoffrey G Parker, Marshall Van Alstyne e Sangeet Paul Choudary acreditam que a empresa tradicional terá dificuldade quando precisar lidar com concorrentes que foram construídos em cima de modelos de plataformas digitais.
Provavelmente, essas empresas tradicionais diminuirão a competitividade. Normalmente, as plataformas crescem muito rapidamente, pois nascem como uma startup e orbitam ao redor do ecossistema das grandes companhias. Mas as grandes empresas ao ignorá-las, acabam não percebendo que as mesmas recebem investimentos e crescem em velocidade exponencial. Depois pode ser tarde demais para uma reação.
Quais são as opções para os CEOs dos players já estabelecidos no mercado? Talvez possamos pensar em quatro saídas:
Primeiro: lutar contra uma plataforma. Se essa for a estratégia, é bom ter ciência que o gasto de dinheiro para sobrevivência é bem alto.
Em segundo lugar: se aproximar das plataformas e começar a fazer negócios com elas, sendo fornecedor, pode ajudar a encontrar oportunidades de coexistência.
Terceiro: tentar transformar o seu negócio, o que pode ser um pouco difícil e criar barreiras, devido ao sistema de defesa do seu modelo atual, mas não é impossível.
Quarto: criar ou investir em iniciativas de plataforma, trazendo um new business separando-o das operações atuais.
Acredito que é possível combinar os esforços. Sim, o mundo está mudando e os negócios precisam se transformar para essa nova Era Digital. Algumas grandes empresas de TI entenderam isso e agora estão ajudando seus clientes nessa nova etapa. Pedir ajuda para os clientes ou acionar os aceleradores ou incubadores de startups, que também orientam nesse processo. Só não recomendo que fique parado, isso pode ser perigoso!
Se você já está neste nível e precisa entender melhor sobre Transformação Digital, é hora de estudar mais sobre o conceito. O Whitepaper “Transformação Digital na Gestão Financeira” da Wiipo é um material completo com tudo que precisa saber para otimizar e aplicar na sua empresa. Boa leitura!
Anderson Torres, Product Manager da Wiipo.
Referência:
PARKER, Geoffrey G.; VAN ALSTYNE, Marshall W.; CHOUDARY, Sangeet Paul. Plataforma: a revolução da estratégia. Alta Books, 2019.